Os três oponentes desse comparativo são – literalmente – belos representantes da nova safra de hatches premium à venda no País. A novidade mais recente vem da Ford: a segunda geração do New Fiesta, agora nacional, melhorou uma receita que já era muito boa. Seu design ficou ainda mais agressivo com a adoção dessa enorme grade e dos novos faróis afilados, que, por mais que a marca negue, remetem aos modelos da Aston Martin. Outro lançamento recente, o Peugeot 208, tem linhas musculosas e que em nada lembram a feminilidade que transbordava do 207, seu antecessor. É um tipo de carro que chama a atenção por onde passa, assim como acontecia com o 206 quando foi lançado, em 2001. Já o Sonic, terceiro elemento desse embate, é o mais velho da turma. Está aqui desde meados de 2012, primeiro importado da Coreia, e, desde o fim do ano passado, vindo do México. Seus faróis sem lentes e seu visual distinto dos demais modelos da Chevrolet lhe garantem uma personalidade forte. Em meio aos rivais, ele parece mais sério, sóbrio, com cara de mau. Mas isso não significa que suas linhas sejam menos atraente. Se estivéssemos em um concurso de beleza, seria difícil definir um vencedor.

Mas não é. Então, deixemos de lado os quesitos subjetivos e vamos aos fatos. Como uma das grandes novidades mecânicas do New Fiesta é o câmbio PowerShift, decidimos escalar um grupo de modelos automáticos, todos com motor 1.6, para enfrentá-lo. O 208 Griffe automático é o mais em conta, vendido por R$ 54.690. O Sonic LTZ sai por R$ 54.900 (há uma versão LT automática de R$ 50.800) e o Fiesta, que puxa o cordão, custa R$ 54.990. Mas aqui cabe uma ressalva: o Ford não é automático. Ele traz uma caixa manual robotizada com dupla embreagem. O que isso tem de vantagem e desvantagem veremos a seguir. Em princípio, o valor cobrado por ela (R$ 3.500) é um tanto alto, já que esse tipo de câmbio costuma ser mais barato que um automático convencional.

Apesar de todos serem 1.6, o desempenho varia muito, principalmente pelo uso de diferentes transmissões. O Fiesta tem a melhor receita: o motor Sigma flex ganhou duplo comando e agora desenvolve até 130 cv, um recorde para a categoria, e 16 kgfm. Essa unidade trabalha em conjunto com o câmbio automatizado de seis marchas, que garante menos perdas e mais economia de combustível, quando comparado a um automático, pela ausência do conversor de torque.

A dupla embreagem, em tese, deveria eliminar os trancos nas passagens de marchas, mas eles ainda aparecem. Menos do que em outras caixas semelhantes, mas estão ali. No entanto, o grande pênalti do câmbio está na certa lentidão em reduções. Outra coisa que desagrada são as trocas manuais por botões na alavanca. Não é prático. Melhor seriam borboletas no volante. Ainda assim, o modelo retoma com vigor e seu desempenho chega a empolgar. É o melhor nesse quesito. Além disso, tem suspensão um tantinho mais firme, porém ainda confortável. É bom de curvas e mesmo em velocidades mais altas passa segurança e sensação de grande estabilidade.

Já o 208 tem motor 1.6 16V de 122 cv e 16,4 kgfm – o maior torque. Em conjunto com a transmissão manual, esse motor garante uma bravura impressionante ao modelo; com o câmbio automático de apenas quatro marchas, perde grande parte de seu brilho. O acerto parece melhor que no 207, mas, ainda assim, compromete a receita equilibrada do modelo. Na cidade, o câmbio se atrapalha. Reduz desnecessariamente algumas vezes e, em outras, demora para subir a marcha. Na estrada, o carro fica mais ruidoso do que deveria. As borboletas no volante são um plus, ainda que sejam fixas e não girem com o volante, o que as torna ineficientes em serras com muitas curvas, por exemplo. Mas é o único com essa opção, o que é um diferencial. Recorrendo a elas (ou à alavanca) você consegue minimizar um pouco o incômodo do indeciso câmbio.

Se o Fiesta se destaca pela conjunto e o 208 sofre com a caixa mais modesta, o Sonic fica no meio-termo. Seu eficiente motor 1.6 de 120 cv é o menos potente e seu torque de 16,3 kgfm é pouco menor que o do Peugeot. Ainda assim, seu desempenho não é pior que o dos oponentes, principalmente por conta do câmbio automático, moderno e com seis marchas, o mesmo que equipa o sedã Cruze. Bem escalonado, tem trocas relativamente rápidas, mas patina em algumas passagens e fica aquém do do Ford. As trocas sequenciais por botões na alavanca desagradam, como no Fiesta. Com relação à suspensão, diferentemente do que se vê no 208, seu acerto é mais para firme, porém mais barulhento e menos confortável na cidade que o rival New Fiesta. Já o Peugeot é bastante cômodo, mas macio para as curvas.

Em espaço interno, o Sonic leva a melhor. Dos três, é o que acolhe com mais carinho cinco ocupantes. Há mais espaço para as pernas e lateralmente. Mas, como compacto premium, merecia um acabamento mais caprichado. É tudo bemfeito, porém nada surpreende. Nisso, o 208 e o Fiesta são melhores, com destaque para o francês – mas ambos têm bancos traseiros mais apropriados para crianças do que para adultos. Com relação ao porta-malas, há uma pequena vantagem para o 208, mas nada que defi na a compra ou o sucesso de uma viagem com a família.

Já com relação aos serviçoes e custos pós-venda, aí sim a Peugeot tem vantagem. Se os preços liberados pela marca se confi rmarem nas concessionárias, o 208 é mais barato de manter e tem peças de custo mais baixo. Isso quando comparado ao Sonic, já que a Ford não disponibilizou preços de peças, apenas das revisões.

Ainda assim, se a ideia é comprar um automático, tanto Fiesta quanto Sonic agradam. Quer melhor acabamento, mais itens de série e revisões mais em conta? Vá de New Fiesta. Quer mais espaço para os ocupantes e menor preço de compra? Fique com o Sonic. Agora, se quiser um bom pacote, um desempenho empolgante, um bom acabamento e um design também diferenciado… Fique com o Peugot 208 – mas dê trabalho ao pé esquerdo e leve o manual.